domingo, 21 de abril de 2013

Inspira / Expira

O grande chefe da Nestlé veio dizer, entre outra barbaridades, que a água não é um bem comum - deve ser privatizada. (Para ver aqui)
A muitos milhares de quilómetros do escritório do CEO da Nestlé, o governador de Maryland, EUA, cria uma taxa sobre a água da chuva que cai nas propriedades dos habitantes daquele estado. (A notícia aqui)

O primeiro pensamento que me invadiu a mente foi sobre a sabedoria da Mãe Natureza, ou nestes dois casos, na falta dessa sabedoria. Fosse a Natureza sábia e nenhum destes bandidos teria passado de um aborto expontâneo.

Findos os pensamentos positivos, apelei à minha racionalidade e como de costume, não tive resposta. Ainda assim insisti com os neurónios e o resultado foi uma sequência de perguntas: então e o petróleo? e o gás natural? e o ouro? o carvão? o ferro? o cobre? Não são também recursos naturais e bens comuns? Não foram também privatizados e explorados para o enriquecimento de uns à custa da necessidade de outros? Foram... e ainda são. Então há razão para espanto e indignação? Bem sei que a água é essencial ao Homem, mas o princípio é exactamente o mesmo.
Se se continua a aceitar um modelo de sociedade que premeia o empreendedorismo de gestores como o CEO da Nestlé, que permite ao legislador corrupto criar leis permeáveis a ideias aberrantes de governantes gananciosos e insanos, então não tenho que ficar espantado. Afinal de contas é só mais um recurso a ser explorado.

Agora fiquei expectante com próxima visita ao médico de família. Não é de admirar que o Sôdoutor me queira medir o perímetro toráxico para aferir a taxa que me será imposta pelo "consumo" de ar.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pacifismo o caralho!

Sempre tive uma opinião muito crítica quanto ao apelo à serenidade do povo nas manifestações.
Tenho para mim que a presença da polícia deve ser vista pelos manifestantes como o músculo daqueles contra os quais se vão, passo a redundância, manifestar. O pacifismo garante o repouso do músculo, tornando este SÓ num factor inibidor para prevenir aquilo que é, em última instância, o objectivo da manifestação: trazer uma mudança. Assim, uma manifestação pacífica não passa de um grito no deserto. Inócuo.

A polícia, tal como um músculo, é preparada e treinada para situações de potencial conflito, como uma manifestação. Já o manifestante não.
O polícia é polícia por opção. Já o manifestante manifesta-se por não ter opção.
Logo aqui há uma relação desigual.
A polícia vai preparada para o confronto (vejam-se os capacetes, os escudos, os coletes, os bastões, etc...). O manifestante, e aqui temos duas variedades é certo, ou leva cartazes e bandeiras, ou leva calhaus na mão (falando só no nosso jardim à beira mar plantado). Nos dois casos temos uma característica comum: o "amadorismo".
Já na polícia temos SEMPRE o profissionalismo, e muita vezes exacerbado.
Portanto, os apelos ao pacifismo numa manifestação, para mim, não passam de balidos de ovelhas amedrontadas.

Uma senhora com quase 50 anos, enquanto se manifestava pacificamente contra algo que nos afecta a todos, foi brutalmente agredida antes de ser detida. Sem qualquer razão. O seu pacifismo foi imediatamente esmagado pelo excesso de zelo de um básico polícia (que o é por opção), acompanhado por mais cinco (5!) dos seus colegas.

Devemos permanecer pacíficos?

Devemos condenar o arremesso de um calhau dirigido à viseira do capacete de um PROFISSIONAL PREPARADO e protegido por um equipamento PAGO POR TODOS NÓS, profissional esse que é TAMBÉM PAGO para nos calar QUANDO NOS SENTIMOS JÁ AMORDAÇADOS?
Não, não devemos condenar.

Se lá estão é natural que sejam apedrejados.


Esta "DEMOCRACIA" já tresanda a joelhos na cabeça e algemas nos pulsos dos que são roubados.
Está na hora de acabar com os pacifismos.

sábado, 13 de abril de 2013

Resiliência – To Be Or Not To Be

Um material é tão mais resiliente quanto maiores forem os esforços exteriores aplicados a esse material sem que o mesmo perca qualquer uma das suas propriedades. Se, por exemplo, sujeitarmos uma viga de aço a um esforço de torção, considera-se a resiliência dessa viga à torção imediatamente antes da deformação plástica da viga surgir.
Já a resistência vai avaliar quando a viga entra em ruptura, muito depois da deformação plástica.

Tenho visto na comunicação social o uso e abuso da noção de resiliência (parece que a palavra está na moda) sem que quem dela faz uso (e abuso) tenha plena consciência deste conceito.

Na vida, somos tão mais resilientes quanto menos as nossas necessidades primordiais forem afectadas pelas agressões (esforços) a que estamos sujeitos. E neste momento o Homem não é resiliente. Ou melhor dizendo, o “material Homem” tem uma resiliência muito próxima, e infeliz, propositada e convenientemente, a tender para o ZERO. Vivemos no limite. E a ruptura para muitos já aconteceu, para outros está só a dois passos.
Quão resiliente és tu? Quão resiliente queres ser tu?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Prioridades e extravagâncias

Não suporto o discurso "O português é que é mau e preguiçoso e trafulha, trabalha mal e é desorganizado e negligente, descuidado e sempre a precisar de supervisão, sempre descontente com o que tem, oportunista e insubordinado, calão" e etc e tal... you get my drift... Tenho ouvido esta ideia mais vezes do que seria aconselhável e não gosto dela. Não gosto por duas razões:
1ª - Não é verdade - é só uma desculpa fácil, uma maneira de sacudir a água do capote. Quem usa este discurso gosta de se fazer passar por cidadão exemplar imaculado mas é no fundo um potencial e ansioso membro do "grupo" que critica;
2ª - É uma ideia redutora e demonstra cobardia e fraqueza - é muito mais fácil apontar o dedo e pedir responsabilidades ao mais fraco ou ao nosso par.
É injusto que me peçam agora responsabilidades e me apontem o dedo acusando-me de um "crime que não cometi" e obrigando-me a pagar por isso, como fazem os cobardes que não têm a coragem de confrontar os verdadeiros responsáveis porque estes são mais fortes. Mas entristece-me profundamente ver esta triste e reles característica reflectida naqueles que vivem e sentem na pele, tal como eu, estes "tempos de mudança". Acho mesmo que esta ideia é uma forma de manipular a massa e quem a defende está bem intoxicado. É muito melhor que estejamos ocupados a debater pormenores do que a ver o quadro todo.
Tenho a certeza que há muitas e variadas situações de grandes desigualdades ou de regalias excessivas pagas pelo contribuinte e é imprescindível que sejam reguladas. A seu tempo. Não é prioritário. É prioritário sim evitar que o ministro que promove a venda da empresa pública ao grupo económico privado venha anos mais tarde a fazer parte do conselho de administração de uma das empresas desse grupo, por exemplo. Esta promiscuidade sai-nos bastante mais cara a curto, médio e longo prazo do que benefícios "extravagantes" dados em tempos ao trabalhador "comum" de um determinado sector da indústria. Volto a dizer que se deve tirar a "extravagância" ao benefício, e que as situações desiguais devem ser equilibradas. Mas há que destrinçar o grau de importância de cada um dos males e acabar com o mal maior primeiro e depois então curarmos o mal menor. E muito francamente prefiro, neste momento, pagar 1 euro que seja pelo (ainda concedido) "benefício extravagante de uma centena de trabalhadores" do que dar 10 cêntimos (ad eternum) para tapar o buraco deixado por um único ministro.
Não nos desviem a atenção do problema principal com derivados de pequena escala desse mesmo problema.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

...E depois ainda se queixam...

Antes de o considerar um humorista considero-o um pensador. Quem? Bill Hicks. Já não está entre nós, infelizmente. Lembro-me diversas vezes das suas palavras sobre aqueles que se vendem à publicidade. Dizia que também ele tinha recebido convites para fazer publicidade mas, aceitando, seria um vendido e as suas palavras deixariam de fazer sentido. Seriam ocas, vazias, sem significado e podres. Já não se fazem gajos assim.
Hoje vi uma entrevista a um músico cá da praça, Boss AC, onde promovia o seu novo álbum. Até aqui tudo bem... o rapaz faz música, precisa vendê-la e vem à televisão dar a conhecer à malta o novo trabalho que até tem uma música que entra no ouvido, com uma letra engraçada - "é sexta-feira / suei a semana inteira / no bolso não trago um tostão / alguém me arranje um emprego bom". Estava a achar alguma piada à conversa até à altura em que o entrevistador pergunta ao seu convidado se este voltaria a produzir a música de campanha do Cavaco Silva. E foi aqui que mais uma vez lembrei as palavras de Bill Hicks. No entanto este rapaz, que se destacou no mundo da música num género que é socialmente interventivo, conseguiu ir mais longe que se vender à publicidade. Vendeu-se à política. Se é o único? Não. Mas não se pode comparar a Dina e o Quim Barreiros ao Boss AC. Não é pelo mérito ou qualidade de cada um dos 3 artistas, mas pelos públicos-alvo que cada um destes 3 artistas pretende atingir. Voltando à entrevista, a coisa fica ainda melhor quando o Boss AC se tenta safar daquela pergunta feita em tom de provocação. Então não é que o rapaz nesse ano, não só produziu a música da campanha do Cavaco como também a da campanha do Jorge Sampaio?! Diz ele que é a prova de que não apoiou nenhum dos dois. Pois eu acho que alguma convicção política até era uma boa desculpa. Eu, pelo menos, respeita-lo-ia mais. Assim não passa de uma rameira.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Soberano ma non troppo

Não gosto de Entidades Reguladoras em geral e de Entidades Reguladoras de serviços do estado em particular. A sua existência é já demonstrativa da podridão em que (sobre)vivemos.
Mas a ideia de "Entidade Reguladora" surge na minha cabeça sempre que ouço comentários sobre a troika e a austeridade. Acho que para a maioria dos portugueses o FMI e a troika são como que Entidades Reguladoras - vieram para nos regularem, ou regularizarem, as contas. São pessoas ponderadas, que sabem gerir as suas casas, poupados, organizados e felizmente cheios de dinheiro para "ajudarem" aqueles que, como nós, não souberam controlar os seus gastos e criaram dívidas em cima de dívidas. São assim um tipo de fadas do lar mas da economia, cheias de sabedoria e de conselhos. Como fadas que são, não ajudam sem uma contrapartida, uma condição. Estas só querem que os seus conselhos sejam seguidos à risca. Caso contrário não ajudam, e sem ajuda vem a catástrofe. Dizem elas...
Isto até seria bonito se fosse verdade - se fosse verdade que o FMI agiria como entidade reguladora em vez de agir como um banco privado (que é!) e se as fadas que nos enviam viessem para ajudar e não para estrangular.

Se houvesse de facto uma entidade internacional que quisesse regular, verificar e, havendo necessidade, corrigir as contas de um país, essa entidade iria procurar formas de não só corrigir mas também de evitar que mais tarde se voltassem a criar condições para a necessidade de uma nova correcção. 

São cada vez mais do conhecimento comum as jogadas financeiras mafiosas que custam ao erário público milhares de milhões, os bandidos responsáveis passeiam-se entre nós, muitos até nos (des)governam ainda e nada se pode fazer quanto isso. Nada se quer fazer quanto a isso. Sentimos na pele o resultado de más políticas, aplicadas por políticos que se regem por agendas secretas e continuamos a elegê-los como prémio pelos (maus) serviços prestados. Quero com isto de dizer que temos, para além da apatia, a impunidade de mão dada com a democracia o que não me parece lá muito democrático. Vejam-se dois exemplos:
- Sr. Cavaco Silva.
Em 2011, enquanto presidente da república, o Sr. Cavaco Silva apela a todo um país que está na hora de voltarmos ao mar.
Na primeira metade da década de 90 do século passado, o governo do Sr. Cavaco Silva estimulou o abate de grande parte da frota pesqueira portuguesa.
- Sr. A. J. Jardim.
Em 2012 as altas esferas europeias dão a Madeira como "O" exemplo de má gestão dos dinheiros comunitários. Na Madeira desde 1978 até esta data, and counting, com quase trinta e cinco anos de governação, o Sr. A. J. Jardim continua a desafiar tudo e todos como se de um rufia se tratasse. É de lembrar que as contas que estavam escondidas causaram um efeito directo no contribuinte assim que foram descobertas.

Estes dois exemplos demonstram bem o quanto é permitido a pessoas que se demonstram claramente, e para ser simpático, inaptas para um cargo, sigam um percurso de governante como uma carreira profissional com a vantagem de não lhes ser possível imputar qualquer erro que os proíba sequer de "seguir essa carreira". Se se vê num político alguém com uma visão ou com uma perspectiva global e mais abrangente das realidades e tendências políticas, económicas e sociais, se esse político toma decisões que prejudicam o estado e o contribuinte, faz promessas que mais tarde não cumpre, então esse político deve ser automaticamente afastado e chamado à responsabilidade. O eleitor faz a sua escolha com base na tal visão abrangente e global e nos caminhos que um determinado candidato vê, segundo as suas ideologias políticas. Se pensarmos na característica comum a todos os discursos dos últimos primeiros ministros semanas após a tomada de posse - «não esperávamos encontrar as contas públicas no estado em que estão» - facilmente chegamos à conclusão que, afinal de contas, o candidato escolhido carece de visão abrangente e global e é tão ignorante nessa matéria quanto o eleitor.
Quando chegamos ao campo da trafulhice, da má gestão, do uso indevido de dinheiros públicos, do compadrio, do favorecimento e do roubo, então o número de exemplos cresce exponencialmente e em apenas 2 segundos conseguimos trazer à memória pelo menos 3 casos e os nomes de meia dúzia de bandidos, tal é a diversidade de criminosos que encontram neste pardieiro as condições ideais para as suas tão nobres actividades.

Se existisse uma entidade internacional que quisesse criar riqueza económica e qualidade de vida num dado país, essa entidade, ao invés de obrigar um povo a pagar as dívidas consequentes dos crimes económicos cometidos por políticos de má fé, iria ajudar o estado a desenvolver mecanismos que evitassem o aparecimento e proliferação desses políticos e dos seus amigos que de facto lesam a economia de um país. Iria dar voz a um povo amordaçado (e já inerte, como é o nosso caso) e não ser cúmplice daquele que aperta a mordaça.
Essa entidade internacional, tal como as fadas, só existiria numa terra encantada. Aqui no planeta é impossível. Aqui no planeta temos um FMI que lucra com o aparecimento (e reaparecimento) de bandidos engravatados, com os buracos por eles deixados e ainda negoceia com esses mesmos bandidos.

Vivemos numa falsa democracia onde nos convencem que o povo é soberano. Não é nem pode ser. A soberania de um povo está ainda limitada pelos interesses particulares daqueles que o governam. Ainda...

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"...Is It Just Me, Or..." ou "...Ai vais ao teste, vais...!"

...O que estará a fazer um gajo banhado em jóias num carro de luxo, estacionado numa rua da Zona J em Chelas, com 8 mil euros no bolso em notas de 500€...?!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Escafandro

Passaram muitos meses desde o meu último post. Desde de Abril de 2010 muita coisa em mim mudou.
Neste momento dedico-me, em parceria com um grande amigo de infância, ao design de escafandros. Isso mesmo, escafandros. O leitor neste momento questiona-se: "Escafandros?! Isto deve ser alguma piada óbvia sobre o afundamento da situação económica nacional..." Não é. Se quisesse fazer uma piada (óbvia) sobre a nossa economia iria usar, em vez da imagem do escafandro, as galochas. Tenho para mim que aquilo que agora vamos começar a sentir graças às medidas de austeridade que nos estão a ser impostas, não vai passar de uma inundação pela qual podemos passar ilesos com um simples par de galochas, quando comparado ao tsunami que se vai abater sobre nós. Longe de mim estar a desvalorizar o peso que estas medidas vão ter no orçamento das famílias portuguesas. Mas os nossos problemas não se ficam pelo esforço que nos é injustamente exigido para saldar as dívidas que os pulhas que temos tido como governantes têm contraído. O tsunami virá quando, em cima da inundação de cortes salariais e aumentos de impostos e de desempregados, acrescentarmos o aumento do preço do petróleo e o efeito-dominó que a falência (para alguns eminente, para mim já camuflada) da Grécia  dará origem.
Ensinaram-me em pequeno que «um homem prevenido vale por dois» portanto, se vejo no horizonte o tsunami a avançar, o melhor será prevenir-me e envergar o escafandro se quero um dia voltar a ver o Sol. E o que é o escafandro? O escafandro é a minha resiliência, é aquilo que me vai ajudar a superar os tempos difíceis que se avizinham e a mudar o modo de vida que conheci até hoje. Para melhor, claro. O meu escafandro é uma das razões que me tem afastado destas lides e provavelmente a melhor solução que encontrei para me integrar racionalmente neste mundo. O meu escafandro tem um nome e chama-se PERMACULTURA. Foi neste conceito que encontrei respostas para muitas questões que se me levantavam e estou cada vez mais convencido que encontrei um caminho para a transição. Agora só nos falta encontrar a terra para traçar o caminho.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pequenos Passos - Parte I

Acho que estamos a chegar ao fim. Os sintomas sucedem-se um após o outro. Ou é o escândalo da corrupção na política, a enésima falha da justiça, o empresário que distribui luvas pelos "amigos" influentes, as violações e reduções constantes dos direitos dos trabalhadores... enfim. Os exemplos são muitos. Ou, para mim, os suficientes.
George Carlin disse em tempos que a humanidade está a rodar à volta do ralo. Somos a água a descer em espiral à volta do ralo da bacia e a espiral está a tornar-se cada vez mais curta nas suas revoltas, rápida na frequência e íngreme na queda. Como espiral que é.

Quando questionado sobre quais as alternativas que via para o Homem, já que no modelo actual o desemprego, a escassez de alimento e água serão realidades às quais, a médio prazo, nos teremos que habituar, o jornalista Daniel Estulin diz algo que me dá algum alento. Daniel Estulin tem-se debruçado de há uns bons dez anos a esta parte sobre o Grupo Bilderberg. Tem pelo menos um livro escrito mas eu só conheço o seu trabalho pelos artigos e entrevistas que vi na net. Para ele, o Homem conseguirá ter sucesso se recorrer à auto-suficiência organizando-se em pequenas comunidades. Eu também sou da mesma opinião e ao que parece há mais gente a pensar assim.
Tropecei há dias num site curioso, o RadicalRelocalization.com. E deste site fui para um outro, o TransitionTowns.com. Nestes sites vi que as pessoas se estão a organizar e isso parece-me bom. Já sabia que algumas cidades americanas tinham criado moedas locais para dinamizarem a  economia local, mas não sabia que este "movimento" estava tão difundido. Confesso que fiquei contente. Só me chateou o facto de nos sites pedirem dinheiro pelos livros e afins. De qualquer forma a ideia de que há grupos de pessoas que querem e promovem a subsistência em comunidade baseada nos recursos naturais e humanos dessa comunidade parece-me bastante animadora. Já agora, era injusto falar nestes projectos e não mencionar os 30 años de história anarca de Marinaleda.

Neste momento acho que temos duas opções:
- resignarmo-nos, sermos subjugados e fingir que o progresso é assim mesmo (desde que a próxima televisão no mercado seja FULL HD 3D & BIMBY Compatible);
- ou tornarmo-nos activos em comunidade. Como? Talvez estudando outros exemplos de comunidades e tentar aplicá-los à realidade local... por exemplo.
A opção de nos mantermos como ferramentas produtivas neste sistema que já mostrou estar falido é o mesmo que aceitarmos perpetuar a nossa actual condição de escravos. A qualidade de vida que conhecemos hoje é superior àquela que vamos ter amanhã que, por sua vez, será superior à do dia seguinte. E assim por diante. Só não vê isto quem não quer (ou quem está à espera da próxima televisão no mercado).
Optar pelo activismo local para desenvolver uma forma de subsistência devidamente sustendada pelos recursos disponíveis é a maneira que temos de garantir que a falência do sistema não se reflecte directamente nas condições e qualidade de vida de uma comunidade. E é também a maneira de abandonarmos a condição de escravos. Além disso, tem o lado bastante importante de ser uma forma de resistência passiva contra o actual sistema. É como dizer: "Já não gostamos desse jogo, nem tão pouco concordamos com as regras, portanto, NÓS não jogamos". Mas isto tem que ser dito no plural. No singular é impossível... ou efémero.

O meu pessimismo diz-me que já não há saída. As vozes necessárias para dizer "NÃO JOGAMOS!" estão demasiado dispersas, diluídas num mar imenso de cegos que não querem ver e que vão continuar a alimentar a máquina, iludidos com a ideia da liberdade que na verdade não têm. Convencidos que a liberdade está numa bandeira.
Tudo está bem enquanto se pagar a prestação da casa e do carro... o resto não é connosco... transcende-nos. O resto é para eles, os políticos, os economistas, os gestores e administradores decidirem, eles que são os estandartes da bandeira. É com este pensamento que temos sido impregnados: somos naturalmente incapazes e devemos delegar em terceiros a responsabilidade de nos organizarmos. E é este pensamento castrador que nos impede de progredir. 

domingo, 14 de março de 2010

Ainda a Madeira - Más Interpretações

Segundo consta, uma capela foi totalmente destruída na enxurrada. Sobrou o local onde tinha sido erguida, um crucifixo e o boneco duma santa. Mais nada. Tudo o resto foi levado ladeira abaixo. O facto do crucifixo e do boneco terem sido poupados foi logo tomado pela população como um milagre. Houve portanto uma "força divina" que quis salvar um bocado de cerâmica pintada e um pedaço de ferro e borrifar-se para umas quatro ou cinco dezenas de vidas humanas. São prioridades e cada um tem as suas. Seguindo esta lógica, pode-se comparar esta atitude perante uma catástrofe à situação de um pai que a meio da noite vê que a casa está a arder e, em vez de acordar os filhos, salva os quadros e os bibelots.
É por esta e por outras que seres e forças divinas não me convencem.
Para o padre lá do sítio, no entanto, tudo isto foi um sinal. Um sinal de que a "força divina" quer uma nova capela construída naquele mesmo local. Isso mesmo. O caro (e único) leitor leu muito bem. O senhor padre quer a capela reconstruída naquele mesmo lugar. Ali, onde passou uma quantidade de água gigantesca fruto de um fenómeno natural, capaz de derrubar uma casa e de levar vidas humanas. O pároco afirmou-o perante as câmeras. Não consigo encontrar nada de vídeo na net para comprovar o que vi na TV, mas encontrei isto no "Jornal da Madeira": «“Quando soube do resgate da Imagem fiquei impressionado. Interpreto tudo isto como uma sinal de reconstrução e da vontade de Nossa Senhora em permanecer ali. Sem a capela, este Largo das Babosas fica vazio”, considera.»
Eu tenho para mim que há aqui uma má interpretação. Acho que, existindo o tal ser divino, a mensagem que ele estaria a querer passar seria: "...Vejam! Neste sítio só se safam o ferro e o barro!!! Pirem-se daqui! De vez em quando passa aqui muita água! ...E não é por ser de cem em cem anos que vocês humanos devem ficar espantados! ...Usem a vossa inteligência para construir... até os santuários!"

sábado, 13 de março de 2010

Nem 50 cêntimos!

Se há coisa que vou tentando combater em mim é esta vontade primária que tenho em mostrar aos outros a sua estupidez. Isto é de uma arrogância extrema, eu sei, e como tal, um comportamento repudiável. Mas eu estou longe de ser perfeito e, como disse, é um comportamento que tento combater.
Hoje, antes de pensar na estupidez, penso na falta de educação que leva os outros a se estupidificarem. Este processo é-me, no entanto, bastante difícil de assumir.

Um bom exemplo da dificuldade que tenho em não apelidar os outros de "estúpidos" é este caso da catástrofe na Madeira. (Já agora... ainda ninguém se perguntou porque é que uma das zonas mais afectadas tem o nome de "Ribeira Brava"?)

O lento retorno à normalidade na ilha trouxe também o regresso da besta - a besta que os madeirenses teimam em eleger para os governar. A mesma besta que é responsável pelas vidas que se perderam. Está agora provado que os avisos foram dados. Anos antes. O que o torna responsável. Primeiro ele e depois aqueles que continuam a achar que por ele devem ser governados. A prova disso, diga-se, foi dada numa resposta a uma jornalista que questionou esse pseudo-democrata sobre o peso dos pareceres dos ambientalistas quanto à reconstrução das áreas afectadas. A resposta do ogre ditador foi: "...mas quais ambientalistas?! O ambientalista aqui sou eu!!!" Claro que és Beto, e a prova está à vista!

Vejo todos os dias os apelos à ajuda e solidariedade para com os madeirenses. Mas esta postura do Beto leva a que o meu raciocínio siga a seguinte linha: "se grande parte do meu rendimento vai para o estado, que por sua vez vai patrocinar as tais políticas ambientalistas do Beto, então porque razão vou eu ser solidário e ajudar os madeirenses, se os tenho ajudado, involuntariamente, todos os anos?" Não há razão. Querem cobertores?! Peçam-nos ao Alberto. Eu não dou. Nem um cobertor, nem uma fralda, nem um cêntimo. Já dei demais! Ou melhor, CONTINUO A DAR!

(Um exemplo: eu pago portagens na área de Lisboa e um madeirense não paga uma única em toda a ilha... que está mais esburacada que um queijo suíço... e "esburacar" tem custos altos! Quem é que paga tudo isto? Os "cubanos", na sua voluntariedade forçada.)

A máxima oriental do «não dês o peixe mas ensina a pescar» aplica-se aqui perfeitamente. Ou seja, madeirenses aprendam, eduquem-se, vejam, informem-se, abram os olhos! O desenvolvimento da Madeira não passa só por dar condições aos monstros da hotelaria para se estabelecerem na ilha. O desenvolvimento da Madeira deveria estar muito para além do turismo. Mas quem deve decidir isso são vocês, madeirenses. Vocês é que sabem. Não me venham é pedir dinheiro porque tomam a decisão errada... constantemente! (até a "Visão" eu deixei de comprar quando vi que da edição dessa semana, 50 cêntimos iam para apoiar a catástrofe da Madeira. Já pago impostos suficientes!)

Quem os escolhe, que lide com eles. Daqui levam SÓ o profundo e sincero sentimento de dôr que sinto pela perda de vidas humanas.  A ajuda não é comigo. Peçam-na a quem vocês escolheram. Peçam-na ao vosso "ambientalista".

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Downhill

A Natureza fez mais uma das suas e nós mostrámos mais uma vez a nossa natural vulnerabilidade. Sou da opinião que jamais iremos ser, por mais avançados tecnologicamente  ou "ambientalmente bem integrados" que estejamos, totalmente à prova de catástrofes naturais. Poderíamos ter apostado ainda mais, por exemplo, na investigação de meios para a previsão destes fenómenos, e assim minimizar a perda de vidas humanas. Poderíamos ter apostado ainda mais numa utilização ambientalmente inteligente do espaço que necessitamos para viver e assim evitar também a perda de vidas humanas. Poderíamos ter feito uma série de coisas que iriam minimizar significativamente a morte de seres humanos provocada por fenómenos naturais. Preferimos fazer outras como criar armas para nos defendermos de outros homens que nos fazem sentir ameaçados porque são diferentes. Ou ignorar a topografia escolhida pela Natureza para poder ganhar dinheiro com o mercado imobiliário. Mas mesmo que  não se tivessem cometido estes erros, tudo aquilo que se faça  relativamente aos efeitos de uma catástrofe natural, não passa de minimizar. Não podemos fazer mais que isso. Depois é aceitar que, de facto, às mãos da Natureza somos vulneráveis, não somos mais importantes que qualquer outro ser. Morremos num terramoto tal como morrem outros animais. Somos levados numa enxurrada como qualquer outro animal - claro que estas hipóteses aumentam se construirmos casas num canal. Portanto é natural. É assim e só temos que aceitar.
Claro que também podíamos fazer um esforço para alterar o sentido deste movimento evolutivo que nos afasta do planeta e de ser intrínsecos com ele.

O Homem sente-se hoje em dia como que tivesse sido depositado na Terra, está alienado dela e procura adaptar-se, mas pelos meios errados. Ou tenta fazê-lo partindo dos pressupostos errados. Não será a própria ideia de adaptação que é errada? Como é que nos adaptamos a algo que sempre fez parte de nós?

Imagine-se um homem que passou toda a sua vida sentado em cima das suas mãos. Quando um dia lhe tiram as mãos debaixo do traseiro ele olha para elas como se fossem um corpo estranho agarrado aos seus braços. Estão dormentes porque foram pouco irrigadas e o cérebro não consegue lá fazer chegar os impulsos eléctricos para estimular os músculos e delas também não saem quaisquer informações dadas pelos sentidos. Os canais de comunicação estão obstruídos e estrangulados e o homem sente algum desconforto porque por um lado o controle que tem sobre as mãos é reduzido e por outro não consegue entender o que é que as mãos sentem... não consegue distinguir o calor do frio, nem a dôr do alívio. Nesta minha perspectiva da realidade, é assim que entendo a actual interacção homem/ambiente.  A analogia foi um pouco rebuscada, admito, mas não me lembrei de melhor.
Se queremos que esta simbiose resulte temos que irrigar as mãos com sangue, articulá-las com o nosso pensamento, interpretar o que o seu (nosso) tacto nos diz e usá-las de uma forma que nos ajudem nas nossas necessidades sem que punhamos em causa a sua integridade e zelando pelo seu bem-estar.

Continuando a analogia, parece-me que a Humanidade está neste momento a olhar para as mãos dormentes como se fossem um membro estranho ao seu corpo. Observa-as já com queimaduras fruto da sobre-exposição ao frio e ao calor. Estão queimadas porque o cérebro não soube e não quis interpretar os sinais dados pelo tacto. Quer tratá-las mas não sabe como e além disso, o cérebro tem prioridades e o estado de saúde das mãos não é uma delas. Como se a gangrena que lhe ameaça as mãos não se disseminasse ao resto dos orgãos. Como se as mãos não fizessem parte do seu corpo.

A enxurrada na Madeira, tivesse havido menos incúria por parte dos responsáveis pelo ordenamento urbanístico, teria levado menos vidas. É isso que devemos lamentar.
Quanto à tragédia, não me diz nada. Nem sequer acho que o adjectivo seja o correcto para se descrever o que aconteceu. Tragédia para mim é a morte do homem pelas mãos do homem, é haver famílias que ficam sem ganha-pão para que o dono da fábrica consiga mais lucro. Tragédia é a morte de crianças à fome quando há comida que apodrece em armazéns. Estas tragédias acontecem diariamente e ninguém se choca com isso. No entanto ficamos chocados porque quando chove, naturalmente, muito, vemos as barreiras que construimos a serem, naturalmente, derrubadas.
Na Madeira não aconteceu qualquer tragédia no dia 20. Aconteceu uma catástrofe natural cujas consequências foram exponenciadas pela falta de respeito pelo meio-ambiente e pela ganância do ganho proveniente da construção e do mercado imobiliário. Em última instância, somos todos responsáveis pelas mortes na Madeira porque todos permitimos que as faltas de respeito e a ganância continuem.

Esta catástrofe também veio provar algo que todos já sabíamos: Nas situações-limite o ser-humano consegue mostrar o seu melhor lado. As manifestações de solidariedade sucedem-se uma após a outra e as ajudas brotam como cogumelos. É preciso que a malta se assuste para se unir.
Vi várias imagens que eram assustadoras pela forma como mostravam o poder da Natureza, mas o que mais me impressionou foi ver o Sr. Alberto J. Jardim aparentemente sóbrio, num espaço público fechado, sem o seu charuto (naquela sua pose nojenta e arrogante de quem faz o que quer, porque está, de facto, acima da lei). Foi precisa uma catástrofe para que se vislumbrasse nesse ogre ditador qualquer coisa que se assemelhasse a um homem governante.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Olha que chatice

Sobre o Primeiro Ministro caem agora as suspeitas de querer controlar a comunicação social. Como se a comunicação social não fosse já controlada. Ou condicionada, pronto. Não é a primeira vez que um governo cá na terra mostra esta vontade. Parece-me é que este, conduzido pelo Sr. Sócrates, se destaca pela ambição. O Sr. Santana Lopes ficou-se por afastar um comentador. Com Sócrates já lá vão uma pivô de um Jornal Nacional e um director do canal de televisão que transmitia esse jornal. Mais as suspeitas da intenção de compra de uma máquina de comunicação voltada para a propaganda do governo. Mas nós precisamos é de pessoas assim ambiciosas e empreendedoras.

Eu sou da opinião de que o problema já não se prende com ideologias políticas, partidos ou “homens do leme”. Não é a Sra. Ferreira Leite que é melhor que o Sr. Sócrates. Nem o Sr. Louçã é melhor que o Sr. Portas. É indiferente. Para mim, é este sistema económico global que está implantado que vai acinzentar e corroer qualquer cor política que nos venha a governar. O próprio voto é uma ferramenta deste sistema que nos ilude com a ideia de que escolhemos quem nos governa. É a Lei do Lucro que nos governa e é ela que vai corromper o mais íntegro dos políticos (se é que ainda existem) que o eleitorado venha a escolher. E este é o melhor cenário que se pode pôr: existir alguém íntegro com ideias credíveis, humanistas, dentro do nosso universo político. Se esse alguém não fôr corrompido é, já se sabe, afastado. Por isso, repito, a escolha que o eleitorado faz é uma ilusão. É uma mentira.
Quantos partidos cumprem integralmente os seus programas eleitorais e promessas políticas? Eram 150 mil quê?! Desempregados?! Prometem-nos reduções de impostos e mais trinta-por-uma-linha sabendo à partida que não podem cumprir. E se eu tivesse fundamentado a minha escolha nessas promessas? Qual o resultado da minha escolha?! Escolhi o quê?! Se quem escolhi me prometeu algo que não cumpre, não terei eu o direito de poder fazer uma nova escolha?! Ou tenho que ficar mais 3 anos a ser governado por alguém em quem perdi a confiança?
As perguntas não são novas. É mesmo na sua recorrência que se deve reflectir. Já não será altura de pensarmos na razão que leva a que estas questões estejam constantemente a ser levantadas? 
Será o medo da mudança que nos impede de ver a falência de um sistema social, político e económico ao qual nos acomodámos?

O governo anterior tentou calar bocas incómodas, este quis ir mais longe, e o próximo provavelmente fará pior. E isto é natural que aconteça. O saque ao país continua, a situação económica não melhora, portanto há muito para esconder, bolsos para encher e bocas para calar.
Cada vez mais tento ver o lado bom das situações más. O lado bom desta é que isto talvez seja um dos primeiros sintomas de uma queda. Não é que eu tenha o desejo de ver algo a ser destruído. O meu desejo é de ver algo melhor a ser construído.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O Império dos Porcos e a Liberdade de Escolha

A Smithfield é uma das maiores empresas da indústria alimentar americana. Vi um documentário no Toda A Verdade que mostrava como esta grande máquina se expande. Para resumir: Compram os matadouros, impõem os seus preços aos suinicultores, levam-nos à falência, compram as quintas e assim garantem o seu monopólio e o domínio do mercado. É o modus operandi comum. Esta Smithfield, grande como é, não se pode ficar pelo mal que faz socialmente. Também há a questão ambiental. O resultado do trabalho digestivo do porco é 10 vezes superior ao do homem. Os porcos da Smithfield defecam o equivalente a 100 milhões de pessoas... e para onde vai esta bosta toda? Para "lagoas" que acabam por poluir o ar que fica irrespirável e a água da área circundante. A Smithfield admite que há alternativas para lidar com os escrementos dos porcos, muitas delas reduziriam significativamente o impacto ambiental, no entanto, optar por essas alternativas é economicamente inviável. Ponto final.
Quis escrever sobre o documentário porque é um óptimo exemplo daquilo que falo no post do ambiente. Os interesses em rumo de colisão. Se o bem-estar é caro, então não há bem-estar. Que se lixe! ...o toucinho e as costeletas ficam ao preço da chuva, graças a D€us.
Como um império em crescimento que é, a Smithfield também patrocina políticos que lhes vão garantir a abertura das portas certas para a expansão da empresa. Garantem isso e muito mais, é claro. Umas leis ambientais flexíveis e com lacunas dão sempre jeito.

Voltando ainda ao documentário que, como dá para perceber, aconselho.
Do outro lado estão os suinicultores e agricultores que ainda sobrevivem. Queixam-se que não concorrem em pé de igualdade contra um monstro industrial que consegue pôr no mercado produtos a preços tão baixos. Ao que parece, segundo um responsável britânico para os assuntos agrícolas, é a liberdade do consumidor que vai decidir no final qual o produto a escolher: o barato da máquina industrial, ou o caro do pequeno/médio produtor.
O consumidor vai então usar da sua liberdade de escolha. Livre. O consumidor livre, que vê as suas economias e ganhos crescerem a um bom ritmo, próprio de uma evolução económica normal, sente-se assim livre para escolher entre a costeleta mais cara e a mais barata. Está assim nas nossas mãos, os consumidores livres, salvar os suinicultores e agricultores de serem esmagados por uma máquina económica de fazer salsichas.
Devo dizer que foi graças a esta noção que tenho agora da liberdade de escolha do consumidor que se fez claro na minha cabeça o «porquê» de certas mudanças que venho sentindo.
Por isso é que eu vejo o meu poder de compra a aumentar de ano para ano.
Por isso é que os impostos diminuem a cada orçamento.
Por isso é que se vende azeite importado de má qualidade.
Por isso é que, onde existiam três mercearias, dois lugares e um talho, agora existe uma única mercearia. É para o consumidor se sentir livre para escolher.
Assim sim, tudo faz muito mais sentido.
Estes gajos pensam em tudo.


Graças a D€us, somos livres!

domingo, 31 de janeiro de 2010

Telejornal ou Televendas: Você Decide! ...ou pensa que decide...

No blog do J fiquei a saber do NLP (Neuro-Linguistic Programming), ou Programação Neurolinguística (PNL), e sobre a forma como este conhecimento científico da mente humana se tornou, outra vez, numa ferramenta contra o Homem para favorecer uma mão cheia de homens. Vou resumir: nos links dos vídeos que se podem (e devem!) ver no blog do J, ficam-se a conhecer algumas técnicas usadas para manipular, para nos venderem o que querem. E nós "escolhemos livremente" o que nos querem vender, desde o aspirador ao Primeiro Ministro. Mas tudo livremente. A comunicação social é um exemplo usado nos vídeos por ser, obviamente, um meio de manipulação de massas por excelência. Já todos se aperceberam muitas vezes de uma entrevista que é conduzida para descredibilizar alguém (a Sra. D.TvI, aka Manuela M. Guedes, fazia isso sem qualquer pudor). Ou o debate em que as perguntas postas a um dos convidados são feitas num outro tom (lembro-me de um debate em que o candidato do MMS teve direito às mesmas perguntas, mas foram-lhe postas como se se estivesse a fazer um frete, um favor. Isto é parcialidade. Isto é manipulação)... E estes "pequenos" pormenores são importantes. A expressão corporal é muito, muito importante. Todos juntos, estes factores são uma forma subliminar de nos transmitirem mensagens, conceitos, que, por virem nessa forma subliminar, são assimilados sem qualquer questão.
Na minha opinião, o pivot de um telejornal pode ser um agente activo, uma ferramenta nesta PNL. É um actor antes de ser jornalista. Portanto tem um guião, um argumento a seguir, enquanto actor. Julgo que a expressão corporal, tom de voz, atitude, postura, são pormenores que uma linha editorial não deixa ao acaso. Na minha realidade, 80% do jornalismo que vejo está estrangulado pelas linhas editoriais que estão, também elas, estranguladas pelos grupos a que pertencem. Temos uma comunicação muito pouco social. É mais uma propaganda social. E esta forma "abstracta" de comunicação ou propaganda tem sido explorada para condicionar as escolhas do Homem ao ponto de nos fazer crer naquilo que nos é benéfico ou não, ou o que devemos ou não temer.

A Programação Neurolinguística tem muito mais que se lhe diga, a avaliar pelo que encontrei na net. Esta questão da manipulação parece-me ser uma das vertentes duma matéria que julgo multifacetada. Aconselho as buscas na net por sites, artigos, documentos, relatos, tudo o que parecer interessante sobre o assunto. Tirem as vossas conclusões que eu tirei as minhas.

Num zapping à hora de almoço vejo a Sra. Hillary Clinton, convidada de um talk-show. Lá estava a tal vertente persuasora da PNL em todo o seu esplendor. Um autêntico teatro a começar pela postura certa da anfitriã. Com um olhar atento, interessado, acenava com a cabeça num assentimento constante à convidada que, debaixo de um banho de luz que lhe dava não uma mas 18 auras e 2 auréolas, explicava qualquer coisa que devia ser emocionante. Não sei o tema da conversa porque baixei o volume. Estava a comer e eu estou cada vez mais BSI (Bull-Shit Intollerant). Mas dava para perceber que o realizador queria mostrar o clima de tensão no estúdio. A alternância entre o grande plano das espectadoras e dos seus olhares atentos, também elas no seu "sim" constante com a cabeça em sinal de reverência, e o grande plano da convidada que discursava de olhos brilhantes, demonstrava bem qual a mensagem subliminar a ser passada: "Esta senhora sabe do que fala!", "Ouçam-na, admirem-na", “É nela que devem acreditar”. Claro que a partir do momento em que o telespectador começa a identificar estas manobras, descobre que assiste não a talk-shows e entrevistas mas sim a espectáculos de televendas camuflados. Tenho que corrigir. Acho que cada vez menos se preocupam em camuflar. Já é tremendamente descarado. Só falta o telespectador querer ver e identificar a manobra.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Tu vai mas'é tratar-te!

Nomofobia. Esta passou agora nas notícias. Pelos vistos sofre de nomofobia aquele que não consegue estar incontactável, sem um telemóvel, facto que pode trazer grande angústia.
Pois eu acho que alguém que fica com angústia por estar incontactável sofre de outras maleitas da cabeça mais graves que a nomofobia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Diz-me com quem andas...

Soube ontem que em 1977 três investigadores e activistas ambientais publicam um trabalho sobre o excesso de população. Coisa curta de 1000 páginas. Nesse trabalho são citadas e discutidas várias formas de controlar o crescimento populacional, que vão das mais pacíficas como o planeamento familiar, às mais radicais como esterilização forçada da mulher ou a esterilização involuntária da população através da água ou comida.

(Para que não ficassem dúvidas, alguém achou por bem digitalizar algumas páginas desse trabalho. Para ver aqui)

Do que li (e não li tudo, obviamente) fiquei com a ideia que não se está a citar seja quem for, mas sim a explorar uma concepção de uma política de controlo da natalidade. Mas esta é a só a minha ideia. Cada um que tire a sua.

Estamos agora em 2010 e passaram quase 33 anos desde a publicação do livro. Três décadas depois, um desses três investigadores, John Holdren, é o assessor do Sr. Obama para as Políticas Científicas e de Tecnologia e director do mesmo gabinete. Holdren foi também assessor de Clinton para a Ciência durante 7 anos.
33 anos podem mudar uma pessoa, é certo, mas quer-me parecer que para alguém que achava que uma das formas de controlar a natalidade seria ministrar drogas às pessoas sem o seu conhecimento, os 33 anos não chegam. Só acredito se durante esse período tenha sentido na pele, literalmente, uma medida contraceptiva radical. Como a remoção forçada do saco escrotal, por exemplo... Mas este é o meu lado céptico a falar.

Convém reportarmo-nos à década de 70 e ao que seria o ambiente num campus universitário... muito liberalismo... activismo ambiental, "investigação" num sentido lato... experimentação... toma lá ácido, dá cá ganza e vice-versa... e pronto!... lá vem uma alucinação escrita. Não é de descurar esta hipótese.

Vou acreditar que Herr Holdren mudou em 3 décadas e que hoje diz a verdade quando afirma que nunca defendeu que algum governo pudesse implementar políticas que fossem intervir na vontade do indivíduo de procriar ou não. Afirmou-o perante o comité de nomeação, numa atitude de auto-flagelação por deitar fogo ao seu "rabo-de-palha". Agora resta saber se é de facto verdade. Eu espero que seja.
...E este é o meu lado crente a falar. (...tem pouca prática e muitas mágoas, este lado)

Mas que o Sr. Obama os escolhe a dedo, disso não restam dúvidas. Ou então esta é a DreamTeam dos Democratas... E este é supra-sumo em Ciência dos Democratas... não há lá melhor entre os militantes ou filiados no partido? Um Sr. Cass Sunstein que controla a informação seguindo a escola de Goebells e um Sr. John Holdren que parece gostar de brincar com a fertilidade da malta seguindo a escola de Mengele, parecem-me ser pessoas com uma noção de Democrata muito peculiar. Não quero saber o que será para estes dois uma ditadura.
São companhias um pouco questionáveis para o chefe máximo da nação que quer ser um estandarte da democracia e o símbolo de um mundo livre.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Cass Sunstein

Nunca tinha ouvido falar neste exemplar até ter visto as notícias ontem no American Free Press. (Vi mais aqui e aqui) Segundo o artigo, o Sr. Sunstein é da opinião que blogues, redes sociais e outros que defendam teorias da conspiração devem ser calados. São prejudiciais ao bom funcionamento da sociedade e da democracia. Esta opinião não é única e mais exemplares há que partilham desta visão e não encontro nisso qualquer problema. A democracia está viva quando todos exprimem o seu pensamento. O problema é que o Sr. Sunstein foi escolhido pelo Sr. Obama como o seu chefe do “Office of Information and Regulatory Affairs” (Teve que ser assim porque não consigo traduzir correctamente a pasta que lhe foi entregue... os Regulatory Affairs trocaram-me as voltas). E um senhor com este pensamento, encarregue de uma pasta de Informação e “Regulatory Affairs”, não é lá muito bom sinal...
O medo da proliferação de sites, blogues e redes sociais onde boatos e rumores ganham a dimensão de crenças, justificam as intenções do Sr. Sunstein, de regular a informação na Net. O Sr. Obama, pela mão do Sr. Sunstein, assume assim que a melhor forma de evitar a disseminação do rumor é calar a boca que o profere. Na minha eterna ignorância pensava que a melhor maneira de acabar com um rumor era com a verdade. Calar bocas que não dizem o que queremos ouvir, seja verdade ou não, parece-me um pouco opressivo. Tudo o que é claro e transparente não é propício ao rumor e ao boato. E se há rumores e boatos, devem ser esclarecidos e depois apagados. Ou melhor, apagam-se depois de esclarecidos e clarificados. Este seria um método para terminar com os boatos e as teorias da conspiração. O Sr. Obama prefere a mordaça. São opiniões e a dele vale bem mais que a minha... (por isso é que ele tem a Sala Oval e eu escrevo desabafos num blogue)
Uma medida deste calibre, de regular a informação na Net, é muito polémica. Para que tenha pernas para andar, a opinião pública precisa de estar ao lado do Sr. Obama. Estou curioso para ver a manobra que vão usar para justificar à malta que não são só os sites islâmicos anti-E.U.A que a Casa Branca quer vigiar... também quer saber o que dizem e pensam os "compatriotas subversivos".
Já lá vão uns aninhos que não eram tão transparentes quanto às perseguições políticas. Ao menos nesta parte não dão azo a rumores.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

They're Fuckin' With Me Subliminally

Há músicas que me vão acompanhando durante a minha vida aqui no planeta. Tenho várias, e uma série de razões para as "trazer comigo". Uma letra ou um refrão intemporais são uma dessas razões. E esta é uma dessas músicas. O título é sugestivo e o nome da banda que a criou ainda é mais: Suicidal Tendencies. Hardcore do início dos '90, puro e duro. Ainda tocam e estiveram há coisa de 2 ou 3 meses aqui por estas terras. Para mim são os Stones do hardcore. Curiosamente (ou não) esta não é a única música de Suicidal que trago comigo. Já não os ouço tanto como ouvia, que o corpo também já não dá para grande head-bangin'. Kiddin'. Mas este título de Suicidal começou automaticamente a tocar assim que vi esta campanha de um banco (este é roxo) para vender relógios. A frase usada é "O tempo é um luxo". É só uma frase para vender relógios, mas é também o reforçar de uma ideia distorcida que nos tem vindo a ser imposta. Vendo bem, de subliminar tem muito pouco. É explícito e declarado.
Mesmo assim, acho que falta um remate, um ponto final. E atrevi-me a tentar corrigir essa falha (na minha leiga e modesta opinião, claro). O criativo que me desculpe mas apeteceu-me.
Então eu acho que a coisa podia acabar assim:







Acredito que o tempo é um luxo...
...e eu sou obrigado a vender o meu.

Acredito que o tempo é um luxo...
...e o espaço uma especialidade gastronómica.

Acredito que o tempo é um luxo...
...e que este banco ofereceu relógios aos seus funcionários para verem quantas horas dão ao patrão em vez de estarem com a família.

Acredito que o tempo é um luxo...
...e os impostos uma dádiva.

E ficava aqui o resto do dia a dar finais felizes à campanha. Mas não posso. Faltam-me os luxos.


Parabéns a você

Um aninho de Obama, O Salvador. Foi o que me faltou ouvir enquanto assistia incrédulo às chamadas telefónicas que caíam sucessivamente num fórum de um desses programas matinais. Vozes embargadas agradeciam o trabalho já feito e o que virá a fazer. O que vi foi quase extâse fanático-religioso. E é nestas alturas que me parece impossível que se consiga mostrar às pessoas que, por muito que o Sr. Obama queira acabar com os desequilíbrios sociais, ou incentivar o desenvolvimento de energias alternativas, ou fomentar o diálogo com o "mundo islâmico", por muito que queira fazer seja o que for, os donos do jogo, os que ditam as regras, não vão permitir. Ou é corrompido, ou afastado. Já aconteceu antes. Esta é uma ideia.
A minha é esta: O Obama já trazia fios quando foi eleito. A palavra de ordem "Yes We Can", a proximidade com o eleitorado, o arregaçar da manga a dizer "sim, temos todos que ajudar... os tempos são dificeís mas todos conseguimos... yes we can!", este efeito aglutinador para juntar as massas traz água no bico. O Sr. Obama foi (ou continua a ser), na minha opinião, levado ao colo pelos media. E é esta parte que me deixa desconfiado. Até a história do Nobel da Paz que descredibiliza logo, já agora, o que para mim era uma instituição imparcial e isenta. Enfim... velhos tempos. Mas acho que o Sr. Obama recebeu a notícia de ser um dos nomeados para o Nobel da Paz como o Paulo Portas recebeu a notícia de que ia ficar com a pasta da Defesa: "Quem?!?! Eu?!?! ...não pode ser...!!!" Eu sei que foi há muito tempo mas também me parece que ser laureado com o Nobel é um daqueles momentos importantes nestes 365 dias á frente do Mundo. Por isso, em tom de homenagem, vou transcrever agora, quase um ano depois, o telefonema que Obama fez depois de saber da sua nomeação:

Obama - "'Tou, Boa tarde caro Sr.Dr. Rockefeller... espero não estar a incomodar..."

Rockefeller - "Não incomodas nada, pá. Na boa. E deixa lá o caro Sr.Dr., estamos à vontade. Basta Sr. Dr. Mas então conta lá."

O - "Sr.Dr. Rockefeller... por acaso o Sr.Dr. terá algo a ver com esta coisa de eu ser nomeado para o Nobel da Paz? ...Parece uma daquelas partidas, e das boas... é que é logo o da Paz..."

R - "Oh caraças... esqueci-me de te avisar! Fomos nós que tratámos disso, sim. Olha e ainda bem que falas nisso porque também ficas já avisado: Finais de 2010, início de 2011 és canonizado. 'Tá tudo tratado com o Pastor Alemão... depois a data é uma questão de agenda. Acertam depois as secretárias essas tretas."

O - "...então ainda bem que liguei. Mas Sr.Dr., para ser canonizado não é preciso estar morto?"

R - "Isso era antigamente... hoje em dia a coisa é mais flexível. O Vaticano adaptou-se a um novo mundo, percebes?! ...e depois para nós, é a tal «win-win situation» ...não interessa se é santo vivo ou santo morto. É santo e é dos nossos!"

O - "Com todo o respeito Sr.Dr. Rockefeller, mas essa situação de win-win não me toca a mim... é que..."

R - "Tem calma rapaz... não te preocupes. Vai tudo correr bem... Agora tens é que pôr alguém a tratar do discurso do Nobel. Já 'tás a tratar disso?"

O - "Ainda não... mas estava a pensar num discurso que apelasse mais à união e ao entendimento entre os povos e como nós nos vamos dedicar a isso... invocar Martin Luther King..."

R - "...Olha lá... queres ver que vais ser canonizado à moda antiga?! Tu nem te metas nisso! Deixa-te dessas merdas. Vais lá, agradeces, dizes que de facto o teu país tem trabalhado para a paz... mas que nesta coisa do negócio da paz também se atiram bombas e tal...e muitas... E portanto (e isto é muito importante), portanto, ainda mais bombas vão ser atiradas. Vais lá prepará-los, 'tás a ver? mas com o Nobel da Paz na mão, que dá logo outra cor à pintura"

O - "...pois, de facto... tenho que concordar."

R - "Claro que tens que concordar. A malta dá valor a estas merdas... e olha lá outra coisa... foste dos poucos até hoje que nos fez visitar os tarados dos suecos... não te esqueças"

O - "Não esqueço Sr.Dr. Rockefeller. Não esqueço e agradeço muito. Agora diga-me o que acha de eu, no fim do discurso, dizer que vou gravar em cada bomba, míssil e bala, a medalha do Nobel? ...como que a dizer: queremos tanto a paz que até as bombas trazem certificado!"

R - "É capaz de ser boa ideia... mas não aprofundes muito para não meteres aquela malta toda a chorar... não é o sítio ideal e aquela gente sensibiliza-se por tudo e por nada"

O - "O Sr.Dr. é que sabe. Mas, já agora, devo dizer Sr. Dr. que este prémio não é só meu... também é seu... ganhámo-lo os dois!"

R - "Pois, pois... claro! Olha... tenho que desligar que eu não tenho a tua vida. Evita telefonar, ok? Assim que necessário alguém entra em contacto contigo... entretanto segue aquelas linhas que falámos antes... queres a paz mas obrigam-te a entrar em guerra e tal... tu sabes. Adeusinho"

O - "Ok, Sr. Dr., prazer em ouvi-lo e cumprimentos lá em casa... vou desligar... com todo o respeito... obrigado, com licença."

E lá foram os dois, para as suas vidas atarefadas. Um atarefado a salvar o seu mundo, o outro a fingir que salva o de todos.




 
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