segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Soberano ma non troppo

Não gosto de Entidades Reguladoras em geral e de Entidades Reguladoras de serviços do estado em particular. A sua existência é já demonstrativa da podridão em que (sobre)vivemos.
Mas a ideia de "Entidade Reguladora" surge na minha cabeça sempre que ouço comentários sobre a troika e a austeridade. Acho que para a maioria dos portugueses o FMI e a troika são como que Entidades Reguladoras - vieram para nos regularem, ou regularizarem, as contas. São pessoas ponderadas, que sabem gerir as suas casas, poupados, organizados e felizmente cheios de dinheiro para "ajudarem" aqueles que, como nós, não souberam controlar os seus gastos e criaram dívidas em cima de dívidas. São assim um tipo de fadas do lar mas da economia, cheias de sabedoria e de conselhos. Como fadas que são, não ajudam sem uma contrapartida, uma condição. Estas só querem que os seus conselhos sejam seguidos à risca. Caso contrário não ajudam, e sem ajuda vem a catástrofe. Dizem elas...
Isto até seria bonito se fosse verdade - se fosse verdade que o FMI agiria como entidade reguladora em vez de agir como um banco privado (que é!) e se as fadas que nos enviam viessem para ajudar e não para estrangular.

Se houvesse de facto uma entidade internacional que quisesse regular, verificar e, havendo necessidade, corrigir as contas de um país, essa entidade iria procurar formas de não só corrigir mas também de evitar que mais tarde se voltassem a criar condições para a necessidade de uma nova correcção. 

São cada vez mais do conhecimento comum as jogadas financeiras mafiosas que custam ao erário público milhares de milhões, os bandidos responsáveis passeiam-se entre nós, muitos até nos (des)governam ainda e nada se pode fazer quanto isso. Nada se quer fazer quanto a isso. Sentimos na pele o resultado de más políticas, aplicadas por políticos que se regem por agendas secretas e continuamos a elegê-los como prémio pelos (maus) serviços prestados. Quero com isto de dizer que temos, para além da apatia, a impunidade de mão dada com a democracia o que não me parece lá muito democrático. Vejam-se dois exemplos:
- Sr. Cavaco Silva.
Em 2011, enquanto presidente da república, o Sr. Cavaco Silva apela a todo um país que está na hora de voltarmos ao mar.
Na primeira metade da década de 90 do século passado, o governo do Sr. Cavaco Silva estimulou o abate de grande parte da frota pesqueira portuguesa.
- Sr. A. J. Jardim.
Em 2012 as altas esferas europeias dão a Madeira como "O" exemplo de má gestão dos dinheiros comunitários. Na Madeira desde 1978 até esta data, and counting, com quase trinta e cinco anos de governação, o Sr. A. J. Jardim continua a desafiar tudo e todos como se de um rufia se tratasse. É de lembrar que as contas que estavam escondidas causaram um efeito directo no contribuinte assim que foram descobertas.

Estes dois exemplos demonstram bem o quanto é permitido a pessoas que se demonstram claramente, e para ser simpático, inaptas para um cargo, sigam um percurso de governante como uma carreira profissional com a vantagem de não lhes ser possível imputar qualquer erro que os proíba sequer de "seguir essa carreira". Se se vê num político alguém com uma visão ou com uma perspectiva global e mais abrangente das realidades e tendências políticas, económicas e sociais, se esse político toma decisões que prejudicam o estado e o contribuinte, faz promessas que mais tarde não cumpre, então esse político deve ser automaticamente afastado e chamado à responsabilidade. O eleitor faz a sua escolha com base na tal visão abrangente e global e nos caminhos que um determinado candidato vê, segundo as suas ideologias políticas. Se pensarmos na característica comum a todos os discursos dos últimos primeiros ministros semanas após a tomada de posse - «não esperávamos encontrar as contas públicas no estado em que estão» - facilmente chegamos à conclusão que, afinal de contas, o candidato escolhido carece de visão abrangente e global e é tão ignorante nessa matéria quanto o eleitor.
Quando chegamos ao campo da trafulhice, da má gestão, do uso indevido de dinheiros públicos, do compadrio, do favorecimento e do roubo, então o número de exemplos cresce exponencialmente e em apenas 2 segundos conseguimos trazer à memória pelo menos 3 casos e os nomes de meia dúzia de bandidos, tal é a diversidade de criminosos que encontram neste pardieiro as condições ideais para as suas tão nobres actividades.

Se existisse uma entidade internacional que quisesse criar riqueza económica e qualidade de vida num dado país, essa entidade, ao invés de obrigar um povo a pagar as dívidas consequentes dos crimes económicos cometidos por políticos de má fé, iria ajudar o estado a desenvolver mecanismos que evitassem o aparecimento e proliferação desses políticos e dos seus amigos que de facto lesam a economia de um país. Iria dar voz a um povo amordaçado (e já inerte, como é o nosso caso) e não ser cúmplice daquele que aperta a mordaça.
Essa entidade internacional, tal como as fadas, só existiria numa terra encantada. Aqui no planeta é impossível. Aqui no planeta temos um FMI que lucra com o aparecimento (e reaparecimento) de bandidos engravatados, com os buracos por eles deixados e ainda negoceia com esses mesmos bandidos.

Vivemos numa falsa democracia onde nos convencem que o povo é soberano. Não é nem pode ser. A soberania de um povo está ainda limitada pelos interesses particulares daqueles que o governam. Ainda...

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