sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pequenos Passos - Parte I

Acho que estamos a chegar ao fim. Os sintomas sucedem-se um após o outro. Ou é o escândalo da corrupção na política, a enésima falha da justiça, o empresário que distribui luvas pelos "amigos" influentes, as violações e reduções constantes dos direitos dos trabalhadores... enfim. Os exemplos são muitos. Ou, para mim, os suficientes.
George Carlin disse em tempos que a humanidade está a rodar à volta do ralo. Somos a água a descer em espiral à volta do ralo da bacia e a espiral está a tornar-se cada vez mais curta nas suas revoltas, rápida na frequência e íngreme na queda. Como espiral que é.

Quando questionado sobre quais as alternativas que via para o Homem, já que no modelo actual o desemprego, a escassez de alimento e água serão realidades às quais, a médio prazo, nos teremos que habituar, o jornalista Daniel Estulin diz algo que me dá algum alento. Daniel Estulin tem-se debruçado de há uns bons dez anos a esta parte sobre o Grupo Bilderberg. Tem pelo menos um livro escrito mas eu só conheço o seu trabalho pelos artigos e entrevistas que vi na net. Para ele, o Homem conseguirá ter sucesso se recorrer à auto-suficiência organizando-se em pequenas comunidades. Eu também sou da mesma opinião e ao que parece há mais gente a pensar assim.
Tropecei há dias num site curioso, o RadicalRelocalization.com. E deste site fui para um outro, o TransitionTowns.com. Nestes sites vi que as pessoas se estão a organizar e isso parece-me bom. Já sabia que algumas cidades americanas tinham criado moedas locais para dinamizarem a  economia local, mas não sabia que este "movimento" estava tão difundido. Confesso que fiquei contente. Só me chateou o facto de nos sites pedirem dinheiro pelos livros e afins. De qualquer forma a ideia de que há grupos de pessoas que querem e promovem a subsistência em comunidade baseada nos recursos naturais e humanos dessa comunidade parece-me bastante animadora. Já agora, era injusto falar nestes projectos e não mencionar os 30 años de história anarca de Marinaleda.

Neste momento acho que temos duas opções:
- resignarmo-nos, sermos subjugados e fingir que o progresso é assim mesmo (desde que a próxima televisão no mercado seja FULL HD 3D & BIMBY Compatible);
- ou tornarmo-nos activos em comunidade. Como? Talvez estudando outros exemplos de comunidades e tentar aplicá-los à realidade local... por exemplo.
A opção de nos mantermos como ferramentas produtivas neste sistema que já mostrou estar falido é o mesmo que aceitarmos perpetuar a nossa actual condição de escravos. A qualidade de vida que conhecemos hoje é superior àquela que vamos ter amanhã que, por sua vez, será superior à do dia seguinte. E assim por diante. Só não vê isto quem não quer (ou quem está à espera da próxima televisão no mercado).
Optar pelo activismo local para desenvolver uma forma de subsistência devidamente sustendada pelos recursos disponíveis é a maneira que temos de garantir que a falência do sistema não se reflecte directamente nas condições e qualidade de vida de uma comunidade. E é também a maneira de abandonarmos a condição de escravos. Além disso, tem o lado bastante importante de ser uma forma de resistência passiva contra o actual sistema. É como dizer: "Já não gostamos desse jogo, nem tão pouco concordamos com as regras, portanto, NÓS não jogamos". Mas isto tem que ser dito no plural. No singular é impossível... ou efémero.

O meu pessimismo diz-me que já não há saída. As vozes necessárias para dizer "NÃO JOGAMOS!" estão demasiado dispersas, diluídas num mar imenso de cegos que não querem ver e que vão continuar a alimentar a máquina, iludidos com a ideia da liberdade que na verdade não têm. Convencidos que a liberdade está numa bandeira.
Tudo está bem enquanto se pagar a prestação da casa e do carro... o resto não é connosco... transcende-nos. O resto é para eles, os políticos, os economistas, os gestores e administradores decidirem, eles que são os estandartes da bandeira. É com este pensamento que temos sido impregnados: somos naturalmente incapazes e devemos delegar em terceiros a responsabilidade de nos organizarmos. E é este pensamento castrador que nos impede de progredir. 
 
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