sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

...E depois ainda se queixam...

Antes de o considerar um humorista considero-o um pensador. Quem? Bill Hicks. Já não está entre nós, infelizmente. Lembro-me diversas vezes das suas palavras sobre aqueles que se vendem à publicidade. Dizia que também ele tinha recebido convites para fazer publicidade mas, aceitando, seria um vendido e as suas palavras deixariam de fazer sentido. Seriam ocas, vazias, sem significado e podres. Já não se fazem gajos assim.
Hoje vi uma entrevista a um músico cá da praça, Boss AC, onde promovia o seu novo álbum. Até aqui tudo bem... o rapaz faz música, precisa vendê-la e vem à televisão dar a conhecer à malta o novo trabalho que até tem uma música que entra no ouvido, com uma letra engraçada - "é sexta-feira / suei a semana inteira / no bolso não trago um tostão / alguém me arranje um emprego bom". Estava a achar alguma piada à conversa até à altura em que o entrevistador pergunta ao seu convidado se este voltaria a produzir a música de campanha do Cavaco Silva. E foi aqui que mais uma vez lembrei as palavras de Bill Hicks. No entanto este rapaz, que se destacou no mundo da música num género que é socialmente interventivo, conseguiu ir mais longe que se vender à publicidade. Vendeu-se à política. Se é o único? Não. Mas não se pode comparar a Dina e o Quim Barreiros ao Boss AC. Não é pelo mérito ou qualidade de cada um dos 3 artistas, mas pelos públicos-alvo que cada um destes 3 artistas pretende atingir. Voltando à entrevista, a coisa fica ainda melhor quando o Boss AC se tenta safar daquela pergunta feita em tom de provocação. Então não é que o rapaz nesse ano, não só produziu a música da campanha do Cavaco como também a da campanha do Jorge Sampaio?! Diz ele que é a prova de que não apoiou nenhum dos dois. Pois eu acho que alguma convicção política até era uma boa desculpa. Eu, pelo menos, respeita-lo-ia mais. Assim não passa de uma rameira.

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