quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Parabéns a você

Um aninho de Obama, O Salvador. Foi o que me faltou ouvir enquanto assistia incrédulo às chamadas telefónicas que caíam sucessivamente num fórum de um desses programas matinais. Vozes embargadas agradeciam o trabalho já feito e o que virá a fazer. O que vi foi quase extâse fanático-religioso. E é nestas alturas que me parece impossível que se consiga mostrar às pessoas que, por muito que o Sr. Obama queira acabar com os desequilíbrios sociais, ou incentivar o desenvolvimento de energias alternativas, ou fomentar o diálogo com o "mundo islâmico", por muito que queira fazer seja o que for, os donos do jogo, os que ditam as regras, não vão permitir. Ou é corrompido, ou afastado. Já aconteceu antes. Esta é uma ideia.
A minha é esta: O Obama já trazia fios quando foi eleito. A palavra de ordem "Yes We Can", a proximidade com o eleitorado, o arregaçar da manga a dizer "sim, temos todos que ajudar... os tempos são dificeís mas todos conseguimos... yes we can!", este efeito aglutinador para juntar as massas traz água no bico. O Sr. Obama foi (ou continua a ser), na minha opinião, levado ao colo pelos media. E é esta parte que me deixa desconfiado. Até a história do Nobel da Paz que descredibiliza logo, já agora, o que para mim era uma instituição imparcial e isenta. Enfim... velhos tempos. Mas acho que o Sr. Obama recebeu a notícia de ser um dos nomeados para o Nobel da Paz como o Paulo Portas recebeu a notícia de que ia ficar com a pasta da Defesa: "Quem?!?! Eu?!?! ...não pode ser...!!!" Eu sei que foi há muito tempo mas também me parece que ser laureado com o Nobel é um daqueles momentos importantes nestes 365 dias á frente do Mundo. Por isso, em tom de homenagem, vou transcrever agora, quase um ano depois, o telefonema que Obama fez depois de saber da sua nomeação:

Obama - "'Tou, Boa tarde caro Sr.Dr. Rockefeller... espero não estar a incomodar..."

Rockefeller - "Não incomodas nada, pá. Na boa. E deixa lá o caro Sr.Dr., estamos à vontade. Basta Sr. Dr. Mas então conta lá."

O - "Sr.Dr. Rockefeller... por acaso o Sr.Dr. terá algo a ver com esta coisa de eu ser nomeado para o Nobel da Paz? ...Parece uma daquelas partidas, e das boas... é que é logo o da Paz..."

R - "Oh caraças... esqueci-me de te avisar! Fomos nós que tratámos disso, sim. Olha e ainda bem que falas nisso porque também ficas já avisado: Finais de 2010, início de 2011 és canonizado. 'Tá tudo tratado com o Pastor Alemão... depois a data é uma questão de agenda. Acertam depois as secretárias essas tretas."

O - "...então ainda bem que liguei. Mas Sr.Dr., para ser canonizado não é preciso estar morto?"

R - "Isso era antigamente... hoje em dia a coisa é mais flexível. O Vaticano adaptou-se a um novo mundo, percebes?! ...e depois para nós, é a tal «win-win situation» ...não interessa se é santo vivo ou santo morto. É santo e é dos nossos!"

O - "Com todo o respeito Sr.Dr. Rockefeller, mas essa situação de win-win não me toca a mim... é que..."

R - "Tem calma rapaz... não te preocupes. Vai tudo correr bem... Agora tens é que pôr alguém a tratar do discurso do Nobel. Já 'tás a tratar disso?"

O - "Ainda não... mas estava a pensar num discurso que apelasse mais à união e ao entendimento entre os povos e como nós nos vamos dedicar a isso... invocar Martin Luther King..."

R - "...Olha lá... queres ver que vais ser canonizado à moda antiga?! Tu nem te metas nisso! Deixa-te dessas merdas. Vais lá, agradeces, dizes que de facto o teu país tem trabalhado para a paz... mas que nesta coisa do negócio da paz também se atiram bombas e tal...e muitas... E portanto (e isto é muito importante), portanto, ainda mais bombas vão ser atiradas. Vais lá prepará-los, 'tás a ver? mas com o Nobel da Paz na mão, que dá logo outra cor à pintura"

O - "...pois, de facto... tenho que concordar."

R - "Claro que tens que concordar. A malta dá valor a estas merdas... e olha lá outra coisa... foste dos poucos até hoje que nos fez visitar os tarados dos suecos... não te esqueças"

O - "Não esqueço Sr.Dr. Rockefeller. Não esqueço e agradeço muito. Agora diga-me o que acha de eu, no fim do discurso, dizer que vou gravar em cada bomba, míssil e bala, a medalha do Nobel? ...como que a dizer: queremos tanto a paz que até as bombas trazem certificado!"

R - "É capaz de ser boa ideia... mas não aprofundes muito para não meteres aquela malta toda a chorar... não é o sítio ideal e aquela gente sensibiliza-se por tudo e por nada"

O - "O Sr.Dr. é que sabe. Mas, já agora, devo dizer Sr. Dr. que este prémio não é só meu... também é seu... ganhámo-lo os dois!"

R - "Pois, pois... claro! Olha... tenho que desligar que eu não tenho a tua vida. Evita telefonar, ok? Assim que necessário alguém entra em contacto contigo... entretanto segue aquelas linhas que falámos antes... queres a paz mas obrigam-te a entrar em guerra e tal... tu sabes. Adeusinho"

O - "Ok, Sr. Dr., prazer em ouvi-lo e cumprimentos lá em casa... vou desligar... com todo o respeito... obrigado, com licença."

E lá foram os dois, para as suas vidas atarefadas. Um atarefado a salvar o seu mundo, o outro a fingir que salva o de todos.




3 comentários:

Tarelho disse...

AMAZING. Não te sabia um humorista tão talentoso. Parabéns pelo blog, esta' muito bom. Vou aconselha-lo, como sabes. E quanto à canonização de Obama apenas um breve comentario: "Santa paciência..."

Cumps do primeiro seguidor!

Auto disse...

Obrigado pelo elogio João.
Gosto de me rir. Faço por isso, também. Ainda que de uma forma duvidosa, mas gostei de saber que gostaste.

Abraço

Anónimo disse...

Ta um espetaculo!!!!!!!
amei este telefonema.......
PARABENS PELO BLOG......
Continua......
beijocas

 
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